3.19.2013

O balão de ensaio do Chipre falhou


(Imagem de Le Monde electrónico)


O confisco às escâncaras era tão brutal que os senhores mnistros das Finanças europeus recuaram parcialmente, mas só porque não convinha ao patrão Banca. Para já.
Mantém-se a taxa de 10% sobre as poupanças acima dos 100 mil euros. Continua a ser um crime. O tecto deveria ser mais elevado. Há pobres que amealharam 100 mil euros durante uma vida de trabalho e têm esse dinheiro para comprar a casa ao filho, e não chega. Ter 100 mil euros de poupanças não é sinal de riqueza.

3.14.2013

As anedotas

O Papa Chico - foi a primeira que ouvi logo de manhã no Café Requinte de Arrentela.
Tal como com Maradona, outro argentino, foi a mão de Deus que o meteu lá dentro.
Uma coisa é certa: depois de Messi, o Bolinhas de Ouro, este é sem dúvida o segundo argentino mais célebre da actualidade.

A sério, a sério, digamos que a Igreja católica se define cada vez mais claramente: depois de Ratzinger, o grande inquisidor, este Bertoglio é conhecido por pactuar nos anos 70 com os torcionários argentinos. Não só pelo silêncio e pela inacção, mas pela colaboração activa, este "modesto jesuíta" foi cúmplice das torturas e dos desaparecimentos de muitos padres e leigos argentinos.

3.06.2013

Morte anunciada



Morreu o ditador infernal, com 58 anos apenas. A imagem mostra-o na última campanha da última de várias eleições que ganhou limpa e democraticamente. A melhor obra de Chávez foi ter tentado, e conseguido, distribuir um pouco a riqueza do petróleo pelos venezuelanos, riqueza que antes, desde a I Grande Guerra, ia parar inteirinha ao cu dos oligarcas venezuelanos, hoje comandantes lógicos da oposição, e sobretudo americanos. Para mim, o que conta muito, foi a grandiosa campanha de alfabetização que levou a cabo, ultrapassando peias burocráticas, ideológicas de direita e fradescas, ensinando a ler 2 milhões de venezuelanos analfabetos. A melhor homenagem nesta hora de morte vem, contudo, do importante chairman republicano americano Ed Royce. Disse ele, boçal e frontalmente, ao saber da boa-nova da morte do ditador demoníaco: "Good riddance to this dictator", o que se pode traduzir livremente por "bons ventos o levem" ou "já vai tarde", uma coisa assim. Chávez gostaria de ter assistido a esta homenagem, para poder responder à letra: "Que se fodam os yankees".

2.22.2013

Faux jetons - Leçon nº 1

Faux é "falsas", jetons é "fichas". Se a ficha já é uma substituta de moeda (uma moeda falsa), uma "falsa ficha" é qualquer coisa assim de duplamente miserável, latrinário. O faux jeton é mais, e alapa-se muito mais abaixo, do que o hipócrita dos dicionários e do Vaticano. O senhor Secretário de Estado da Presidência quis dar uma de raciocínio e disse que só entende o protesto se o protesto não for mandar calar os outros. Diz, portanto, aos protestantes: têm o direito de protestar, mas devagar, sem mandar calar, e só lhe faltou acrescentar, porque é um faux jeton: calem-se porque o Relvas e o Passos querem falar. E a Grândola, posso cantar? Sim, mas no sossego do lar. O faux jeton pulula nos blogues da direita encapotada de outras coisas: literária, humorista, malditamente desgraçada, ou blasée, mas genial, ou que vive só para a poesia. Tem um léxico sintético mas altamente significante: Coreia, Chávez, Síria, amanhãs que cantam e, a última que descobri: salvadores do mundo. Os salvadores do mundo são os que protestam e vão às manifestações, são mesmo totós. O Correio da Manhã é o mein kampf faux-jeton da imprensa porque em vez de ter a ombridade (que merda é essa?) de dizer abertamente o que lhe mandam - que os protestos partem do PCP e do BE, denuncia com fotografia e tudo, qual informador da Nova Pide, duas raparigas dessas que protestaram, com os rostos emoldurados num círculo delator, as histéricas.
Mas estamos a fugir do assunto linguístico: eu queria pedir a algum senhor escritor benévolo, nem que seja desses dos blogues, para me encontrar um sinónimo forte de faux jeton porque isto assim está a ficar muito estrangeirado.

2.17.2013

O meu romance dava uma vida


É policial, mas como não sou polícia, apesar de contar a polícia como amiga, nem bandido, se bem que tenha amigos bandidos mas demasiado taciturnos e cautelosos, nem sou amigo de um inspector da Judiciária que me oriente, nem de longe  conheço alguém por dentro do ramo do empreendedorismo com cariz no fundo desmascarador e antifraudiano de nome Franklim, nem possuo a felicidade de possuir um primo guarda prisional com quem iria de bom grado ao alterne beber um ganda copo e onde encontraria bêbedo e solto o dirigente desportivo e o sucateiro, corto o policial. E também porque não existe um bom dicionário actualizado de calão e da pègre portuguesa e também porque não tenho a mania de que não sou intelectual, corto o policial.

Começa o meu romance já não policial mas civil pelo EPÍLOGO (uma quase inovação se me dão licença) mas como já o bestseller português Dostoievski começou o seu Crime e Castigo pelo crime (o epílogo) não quero incomodar os puristas da inovação e corto o epílogo, mas é como se me cortasse os tomates. Pela ordem natural das coisas, depois do epílogo vem (viria) o último capítulo, o 49, territorialmente o primeiro em termos de folheamento do romance e explicando com magistralidade as causas sociais do crime em termos marxistas ou não, e psicológicas em termos freudianos ou talvez, mas como já não tenho crime nem epílogo, corto o capítulo 49. Assim se perdem mais umas 50 páginas que davam para a redacção de um bom mestrado em qualquer coisa.

Restam 48 capítulos bem fornidos dos quais 17 escalpelizam as consequências do crime (o castigo) e a sibéria das nossas almas sem Deus. Mas como já não tenho crime também não posso ter castigo nem redenção. Corto mais 17. Corto sem contemplações todos os meus gangsters egocêntricos porque sem crime não há gangster. Elimino – não escondo sob as lajes da garagem para memória futura – todas as armas que procurei com tanto afinco nos sites especializados porque sem arma não há crime e sem crime não há arma.

O cleaner implacável vai correndo, restam 31 capítulos. Lixo, lixo, lixo, o cleaner não hesita: eles amam-se e intervingam-se, porque a vingança é passional, eles desamam-se e vingam-se – neles, nos outros e na puta da sociedade que lhes paga bem de volta. Eles enlouquecem e agarram-se a Deus e ao Diabo. Mas como não há crime a ligar tanta paixão, sai tudo muito chocho, muito rebuscado e inverosímil, embora belo, com muito silêncio gritante, muita intertextualidade, ampla gama de metáforas, muita auto-ironia encobridora da presunção, munta estrangeirada, muita carência de vida, embora não se exija vida à arte, à boa maneira da narrativa portuguesa de hoje. Corta. Já pouco resta, corramos agora, ó cleaner, os restaurantes finos, a tasca ainda típica do meu velho tio, o monte alentejano, as paisagens tibetanas, o mar oceano, a cagança da erudição, este país de contrastes, a natureza morta mas bem iluminada no caixão, a nostálgica fotografia, a infância difícil, a bebedeira monstra mas bem controlada pela angústia, o cemitério dos deuses, o Porto segunda pátria minha, Beja a terceira, Braga a quarta, os amores e o sexo, os arrotos de sardinhada e de erotismo. Corta. A minha vida sou eu entre quatro paredes, quatro ruas, dois transportes, três cafés, a televisão, o bingo, as malhas da Rede e a biblioteca municipal (corta também esta parte e a do funcionário cansado). Corto tudo por excesso de solidão. E com razão: que leitor acreditaria num eunuco e sociopata literário como eu ousando descrever as indescritíveis, julgadas mas nunca experimentadas cenas de sexo?  E que leitor de mim seria eu com tanta falta de vergonha? Que pena, e que pena corajosa, o meu romance assim cortado de raízes, tronco, ramos e folhagens. Mas dava uma vida cheia, digam lá.

2.15.2013

Tomar no cu

Vem em todos os jornais, ainda bem. Francisco José Viegas, como escritor, usou da sua liberdade poética para os mandar "tomar no cu" no blogue. Como cidadão, foi directo e corajoso e diluiu a matéria excrementícia da urbanidade sacrista em que nos envolvem e amolecem para ver se nos calam; denunciou o big brother monstruoso e inconstitucional que nos querem montar através das Finanças, qual rede de informação pidesca dos tempos modernos (isto digo eu); fala também frontalmente, noutro post, do estado de extorsão como vocação deste Estado. Como ex-secretário de Estado deste governo acho que bateu resolutamente com a porta e deixou lá dentro os merdas todos a comentarem: "Parece que ficou maluco".

2.11.2013

Os diálogos eróticos do eremita ouriquenho não são lá muito eróticos mas simplesmente espantosos de credibilidade literária.

Abandonos

Domingos Paciência abandona o cargo de treinador do deportivo de Corunha.
Bento XVI renuncia ao cargo de papa do Vaticano.

2.10.2013

O Rio de Janeiro continua lindo

> > A SEITA. Dias Loureiro > > > Et voilá: > >
> http://finances.orange.fr/economie/pointdevue/scandale-bancaire-portugais-le
>> s-vacances-a-rio-de-dias-loureiro-266980.html > > > > Le président de
> la République portugaise Anibal Cavaco Silva a décidé de déferrer au
> Tribunal constitutionnel, c'est une de ses prérogatives, certaines
> dispositions d'un budget 2013 d'austérité aggravée parce qu'il a des
> «doutes» sur le caractère équilibré des efforts imposés à la population
> d'un pays qui va entrer dans sa troisième année consécutive de
> récession, une situation inédite depuis la révolution des oeillets de
> 1974. Des doutes? > > Au moment même où ce chef de l'Etat à la
> réputation personnelle plus que ternie se livrait à cette manoeuvre
> parfaitement démagogique, on apprenait qu'une des principales figures du
> «cavaquisme», Manuel Dias Loureiro, passait les fêtes de fin d'année au
> Copacabana Palace de Rio de Janeiro, où une simple chambre coûte quelque
> 600 euros la nuit. Soit d'avantage que le salaire minimum du pays. Voilà
> qui devrait suffire à lever les «doutes» de l'occupant du palais
> présidentiel de Belem. > > Détenteur de portefeuilles ministériels clefs
> dans les gouvernements PSD dont Cavaco Silva était le chef, ancien
> membre du Conseil d'Etat, ce saint des saints de la caste politicienne
> portugaise, Dias Loureiro, «protégé» de Cavaco, est une figure centrale
> de ce qui devrait être un énorme scandale européen, une affaire d'Etat,
> la faillite de la banque BPN. Cette faillite frauduleuse pourrait coûter
> au contribuable portugais, celui là même qui resserre sa ceinture d'un
> cran année après année, jusqu'à sept milliards d'euros, soit près d'un
> dixième de l'aide financière internationale que le pays a du demander en
> 2011, avec comme contrepartie le programme de remise en ordre des
> finances publiques surveillé par la «troïka» UE-BCE-FMI. > > L'activité
> principale des dirigeants de cette banque du «bloc central» (les partis
> de centre gauche et centre droit qui alternent au pouvoir depuis la
> chute de la dictature salazariste) consistait à accorder, par dizaines
> ou centaines de millions d'euros, des prêts à leurs amis, familiers,
> clients...et à eux-mêmes. Dans un reportage remarquable, le journaliste
> de la télévision SIC Pedro Coelho vient de révéler, par exemple, qu'une
> entreprise de ciment de la galaxie Dias Loureiro avait reçu du BPN un
> prêt de 90 millions d'euros. Une autre personnalité du «cavaquisme»
> comme Duarte Lima, ancien chef du groupe parlementaire PSD, emprisonné à
> Lisbonne et soupçonné de meurtre par la police brésilienne, a détourné
> 49 millions d'euros. Cavaco lui-même avait bénéficié, dans des
> conditions suspectes, d'une attribution à prix cassé par le patron du
> BPN José Oliveira Costa, un de ses anciens secrétaires d'Etat, d'actions
> de la SLN, holding de tête de la banque, qu'il a pu revendre avec une
> plus value de 140%. En bref, le scandale du BPN est très largement celui
> du «cavaquisme». Et ce personnage a des «doutes» sur l'équité de la
> politique d'austérité ? > > Ces milliards d'euros sont considérés comme
> définitivement perdus...mais par pour tous le monde. Quand le scandale a
> éclaté en 2009, la presse portugaise a révélé que Dias Loureiro,
> administrateur de la SLN, avait soigneusement organisé son insolvabilité
> personnelle en transférant ses avoirs à des membres de sa famille ou des
> sociétés offshore. De quoi payer la chambre au Copacabana Palace, sans
> doute ? > > Et au fait, qui donc Dias Loureiro a-t-il retrouvé pour les
> fêtes dans cet hôtel de rêve, jadis favoris des vedettes de Hollywood ?
> Nul autre que Miguel Relvas, pilier de l'actuel gouvernement PSD, ami
> proche et «père Joseph» du Premier ministre Pedro Passos Coelho. Relvas,
> dont le maintien au gouvernement est en soi un scandale, alors qu'il a
> été convaincu d'avoir obtenu frauduleusement une licence universitaire
> afin de pouvoir porter ce titre de «docteur» dont la bourgeoisie d'Etat
> lusitanienne est si ridiculement friande. > > Comme Armando Vara, ami
> intime de l'ancien Premier ministre «socialiste» José Socrates
    qui a placé le FMI sous la tutelle de la
> «troïka», Dias Loureiro et les «cavaquistes» du BPN, sont l'illustration
> que la politique professionnelle est bien, dans certaines «démocraties»
> européennes, le chemin le plus sûr vers l'enrichissement personnel
> rapide d'une classe d'aventuriers. En Grèce, en Irlande, en Espagne, au
> Portugal. Et en France ? > > C'est la première leçon. La seconde, c'est
> que les graves dysfonctionnements de systèmes judiciaires eux-mêmes
> gangrénés par la corruption et les réseaux d'influence permettent à de
> tels individus de jouir en toute impunité de biens mal acquis. Il est à
> noter que les responsables directs des désastres bancaires à l'origine
> directe de la crise financière globale ont joui jusqu'ici aux Etats-Unis
> et en Europe, à de rares exceptions près, d'une impunité civile et
> pénale absolue. > > Enfin, cerise sur le gâteau, la surveillance
> bancaire confiée désormais dans la zone euro à la Banque centrale
> européenne, y sera sous la responsabilité du vice-président Vitor
> Constancio, hiérarque socialiste portugais et gouverneur de la Banque du
> Portugal, le régulateur bancaire, quand les «cavaquistes» du BPN se
> livraient à leurs acrobaties nauséabondes. Fermez le ban ! > > > > > > >
>> > > -----

2.09.2013

Vida de cão

Toda a gente é dona de um cão, depois amiga do cão, depois apaixonada pelo cão. Ora o cão cresce e envelhece muito depressa. Vê-se o cão cada vez mais sorumbático e manhoso. Começa a sorrir menos, a comer mais, depois a perder a visão, o ouvido, quase o faro e o cio, já não consegue saltar para os sofás, dorme 22 horas por dia. Dura 15 anos e nós assistimos à sua vida, desde a pujança à apatia, e à sua morte. E é como se assistíssemos a um resumo da nossa vida e da nossa morte. Agora vou citar um poeta morto e esquecido, Raul de Carvalho, que ainda aparece nas ruas nocturnas do Arco Cego, em silhueta velha e aquilina, à procura de rapazes e de metáforas que raramente usava:
Tenho,
Perante Deus,
O direito
De ter
Um cão.

2.06.2013

Forma de vida

Finalmente, qualquer coisa bimestral de jeito para se ler. E com óptima apresentação digital (é assim que se diz?).Traz um conto de Alexandre Andrade, o do umblogsobrekleist.

Anna Karénina

Na minha ânsia de me pôr de bem com o mundo e com certo passado que já mandara para o balde da reciclagem, como se fosse morrer de gripe e tivesse de me despedir do bom e do mau, fiz uns telefonemas, mandei uns mails, paguei umas dívidas e, também por motivos de gripe, reli Anna Karénina. Estava a preparar-me para falar aqui da misoginia do romance, e talvez não da do conde Tolstói seu autor, quando (mas isto é só para quem leu o livro ou viu o filme) deparo com esta boutade da condessa Sófia sua esposa dirigida ao marido: "Tu és o Lióvin [e não Lévin na tradução portuguesa] com diferenças: ele não é poeta e é um chato". É uma curiosidade sem significado para quem vai morrer de gripe, mas talvez faça sorrir o leitor volúvel. E outra, que logo depois encontrei em Anna Akhmátova: "Se ele é misógino? Não foi por acaso que enfiou Anna karénina debaixo das rodas de um comboio".

1.28.2013

Benfiquistas, o que nos une é o coração

ou os contratos de exclusividade. Vem a propósito desta notícia do Correio da Manhã de hoje:

ASAE apreende urna do Benfica

Uma urna com o símbolo do Sport Lisboa e Benfica foi apreendida a uma agência funerária de Peniche pela ASAE, por crime de usurpação de marca, após queixa do clube lisboeta, que tem uma parceria oficial com a Servilusa para a realização de funerais dos sócios com serviço personalizado, empregando a temática benfiquista.

O nosso tempo é assim: coração que renda, paixão que dê dividendos, morte que compense. Hoje o amor é uma contrafacção com direito a ASAE.

1.21.2013

Portugal pitbull

Há dias, no próprio dia do último atentado do FMI contra Portugal, o país indignou-se… com a sorte do pitbull que estraçalhou um bebé. E trinta e tal mil assinaturas de defesa da vida instintiva, que nem de cheques carecas, surgiram num instante. E depois tentou-se um debate universal e mediatizou-se a questão dos direitos animais. E quem se desinteressou disto, por indecente e má figura do tema do cão que morde, não se virou para a velha filosofia do “um homem é um homem, um cão é um bicho e um país não é uma granja ao abandono e sem dinheiro para pagar a renda” mas, nos cafés, nas tascas, nos lares e noutros foros voltou-se de novo para o tema das expulsões da Casa e da inconveniência de algumas nomeações claramente injustas. Enquanto isto, a matilha de capatazes leais nem gozava as folgas nem via televisão para defender com garras e colmilhos as medidas propostas pelo seu boss FMI. É o FIM.

10.18.2012

A solidariedade entre hipertensos não tem limites


Ao saber do internamento do senhor secretário de Estado da Cultura no hospital da Boavista, só posso desejar as melhoras ao senhor secretário de Estado da Cultura e também a Francisco José Viegas, ainda melhoras melhores para Francisco José Viegas, isso então nem se fala.
Não conheço o senhor secretário de Estado da Cultura, conheço o Francisco José Viegas do blogue e dos livros policiais bastante bons e, sobretudo, da sua veia verrinosa quando se trata da defesa do F. C. Porto. Não conheço um terceiro, nem um quarto, nem um quinto FJV porque não ligo a rumores. Agora, por via de um agravamento agudo da pressão arterial, passo a (re)conhecer FJV no senhor secretário de Estado: 32% de corte na cultura deitaram o homem total – secretário de Estado e os vários FJV – abaixo e mandaram-lhe para cima as taxas arteriais. Depois deste anúncio no OGE, se se tivesse ficado nos 12 máxima e 8 mínima, eu apenas sorriria com desprezo como quando olho para o pobre e encolhido Gaspar.
Também eu sou um hipertenso fanático, meti-me nisso há muitos anos, e informo os leigos que esta doença crónica está normalmente associada a outras doenças crónicas (a diabetes, sobretudo), tudo coisas que fazem mossa nos vasos sanguíneos, no coração e na tesão. Já tive várias crises agudas que trato numa saleta do meu Centro de Saúde, quando calha, Centro de Saúde onde andei muitos anos sem médico de família e onde não calhava, por essa razão, baixar a tensão e confesso que não morri por isso. Agora despacham-me em meia hora e apenas por 5 euros, e por vezes as enfermeiras são boas e simpáticas. Já me aconteceu ter de ir baixar a tensão, altas horas da noite, devido à tal indisposição, ao hospital Garcia de Orta, onde, por apenas 20 euros, esperei 3 horas no meio daquela fauna canalha e deprimente de indispostos, alguns estrangeiros, digna das teclas de um De Lillo e não de um pobre hipertenso como eu, e acabei por não ser baixado de tensão, e onde não tive a sorte de ficar internado. Confesso que também não morri por isso.
Assim, caro FJV, como velho hipertenso experiente e manhoso, só posso recomendar-lhe: não ligue à tensão, ela só baixa, e até se rebaixa, se a der ao desprezo; nada de stress, nem que o corte venha a ser de 64%; muito sexo mas, para isso, não abuse do irbersartan/hidroclorotiazida.

7.09.2012

Duas ou três coisas...


Nos tempos carnívoros da Rússia, em que haviam casado à força a menina Verdade com o bolchevismo degenerado, Issaac Bábel exaltava a escrita de Tolstói, «verdadeira» como emanação de nascente, um Tolstói amante querido e correspondido dessa tal fulana Verdade. Na entrevista que deu em 1937 (o ano das grandes repressões stalinistas e em que decorria a colectivização forçada das terras que provocou a fome gigantesca que matou milhões de pessoas), no ambiente oficial e feutré da União dos Escritores Soviéticos à revista oficial e feutré Estudos Literários, I. B. tentava claramente sobreviver. Nada que não se tenha visto e veja por cá numa escala mais vegetariana. Dos seus autores preferidos, clássicos e modernos, daqueles com quem mais aprendeu, mencionou apenas Tolstói, misturado com o oficial Cholokhov (o do Don Tranquilo), passeando-se em abstracções peripatéticas tais como: «Só que a matéria, o fundo das obras dele [Cholokhov], tendo uma roupagem sólida e ardor, não são tão importantes como em Tolstói, porque quando, em Tolstói, um senhor da boa sociedade sai de casa e diz: “Cocheiro, vinte e cinco copeques, para a Tverskaia”, tudo isso reveste o carácter de um acontecimento mundial, que se insere na harmonia do mundo.» É assim mais para o estranho que I. B. tenha deixado na manga o seu grande mestre Gógol e o profeta Dostoiévski, que via no escuro sem a tecnologia apropriada (mas só hoje começamos a dar-lhe razão, por favor leiam Demónios, sobre o terrorismo, leiam Os Irmãos Karamázov mas não se deixem influenciar pelo vigarista Freud). Sabiam que Dostoiévski, ainda nos anos 70 e 80 do século XX, era o clássico mais lido na União Soviética e não fazia parte do programa do ensino de língua e literatura russas nas escolas de ensino obrigatório? Dos seus contemporâneos, o judeu I. B. esquece estranhamente Bulgákov (porque era anti-semita ou porque era um escritor mal-visto?) e, na cautelosa entrevista, também esquece Tchékhov, substituindo-os por dois escritores menores da sua região odessita.
O que transparece do génio de I. B. na entrevista é a ironia, vertida no sotaque de Odessa, de quem está a ver nas caras opadas de vodca de qualidade dos funcionários entrevistadores os reflexos de sangue dos rapaces, como quem diz: meus senhores, emprestem-me alguma esperança, alguma compreensão e tolerância, mas, por favor, olhem que não me quero endividar muito.
Da leitura do livro de contos de I. B. que saiu recentemente na Relógio d’Água farei aqui, amanhã ou assim, uma referência encomiástica. 

6.29.2012

Algumas coisas que sei, ou desconfio que sei, de Issaac Bábil

Se escrevesse a minha autobiografia, intitulava-a "História dos Adjectivos"
Issaac Bábil

Baseio-me numa entrevista que ele deu em 1937, no decurso de um sarau na União dos Escritores Soviéticos, com todas as cautelas que o terror stalinista lhe exigia. De nada lhe valeram as cautelas, porque em 1939 foi proibido, banido, completamente fodido e, ao que parece, fuzilado em 1941. (De nada valem as cautelas quando o terror, antes de apodrecer, viceja em mito de seiva vermelha. Veja-se a Roja, mito finalmente despedaçado, cilindrado por um futebol português anárquico, humilde e trabalhador, sim, mas nada cauteloso.) Nessa entrevista, Bábil ensinava os mais jovens a escrever, mesmo sendo contra a aprendizagem da escrita. "Quando era jovem, pensava que a sumptuosidade deve ser descrita de maneira sumptuosa. Não é verdade. muitas vezes é preciso partir do ponto de vista oposto. Sempre soube, em quase toda a minha vida, 'o que escrever', mas como não podia escrevê-lo em doze páginas, limite que impusera a mim próprio, tive de escolher palavras em primeiro lugar significativas, em segundo lugar simples e em terceiro lugar belas." E o que resta a don Vicente del Bosque, um homem honesto, diga-se, e à imprensa do declínio espanhola, do mito que é tudo e nada? Resta um penálti à la Panenka, verdadeira façanha de heroísmo louco, e ainda outro penálti bem sucedido (note-se que, para salvaguardar os derradeiros estilhaços do mito, a palavra loteria foi banida do analismo dos espanhóis), contra os nossos dois falhados por pedreiros toscos já bêbados de cansaço.
acho que deixo para um dia destes as duas ou três coisas que sei de Bábil, porque nos blogues, como na vida, os textos devem ser curtos.

5.16.2012

Porque deixou de se falar na Síria, mesmo quando a situação se agravou?

Porque veio à luz do dia que os massacres das populações provinham mais dos "rebeldesd" do que das tropas regulares sírias. E, agora, porque os Estados Unidos estão activamente metidos no armamento dos "rebeldes".

5.12.2012

O idiota na literatura

O idiota na literatura: impossível, a não ser que entre nos entrelinhamentos brancos da página. O idiota deve manter-se puro (calado), e não escrever nem ler livros nem introduzir-se neles como personagem palradora.
Por mais que me desunhe a falar, a escrever, a explicar sempre pensei no meu íntimo, e no meu antiquíssimo diário íntimo que mantive como donzela sonhadora e idiota que era e sou, porque mudar não mudamos, sempre pensei portanto que o calado é o melhor. Tenho provas. Já enfrentei discursos muito agressivos calando-me e baixando os olhos, e ganhei. Reparei que, quando nos atacam com discursos na presença de terceiros (normalmente é isso que acontece), a pessoa que os faz não fala para nós mas para o terceiro que quer convencer, sossegar, converter, arregimentar para o seu lado. Aqui, mais do que em qualquer outra situação, o calado é o melhor, uma vez que o discurso de quem me ataca se molda àquilo que o terceiro quer ouvir, não passa de uma confirmação que não tem nada a ver connosco, mas com o outro, nós somos apenas o objecto inerte da disputa, sem importância, que deve ser humilhado. Mas uma disputa destas é tão filha da puta que nos apetece ripostar. Erro nosso. Por outro lado, como mostram as raras passagens do meu diário íntimo que agora encontrei num caixote de cartão grosso esquecido de papel de fotocópias Xerox, se nos calamos as pessoas continuam a pensar de nós, mesmo depois de 30 anos de argumentação brilhante e inteligente da nossa parte, que somos fundamentalmente idiotas porque nos calamos, porque não conseguimos argumentar numa dada situação (vejam, vejam a etimologia da palavrinha “idiota”). E agora digam-me lá se toda a literatura, incluindo este desabafo, não passa de uma disputa filha da puta posta em palavras para convencer, sossegar, converter, arregimentar alguém (o leitor, a mulher do leitor, o patrão do leitor, a igreja do leitor, o ideólogo do leitor e do autor), servindo-se de alguém que é apenas uma personagem, muitíssimas vezes colectiva, inerte, humilhada, secundária e idiota, sobretudo se não fala. Elevar o idiota a herói, só Dostoiévski, mas não pensem que tenho o russo em mente ao escrever isto.
Exemplo: uma entrada muito antiga do meu diário íntimo (das brumas da adolescência para esquecer) é apenas uma página cheia disto: AMO-TEAMO-TEAMO-TE AMO-TEAMO-TEAMO-TE AMO-TEAMO-TEAMO-TE… Se disser que já não me lembro quem amava, e que certamente era um amor tão utópico e vazio como o socialismo do mesmo nome, digam lá se não valia mais estar calado, mesmo no íntimo.

5.10.2012

Democracia sim, mas devagar, ou o estado mental retardado a que recuou a direita



Tirado de Le Monde:

Maryse Joissins-Massini, advogada e presidente UMP (partido de Sarkozy) da câmara de Aix-en-Provence, contesta a legitimidade da eleição de de Hollande em requerimento ao Conselho Constitucional. Segundo ela, Hollande não é legítimo porque, apesar de eleito, chega a presidente "depois de um combate antidemocrático como nunca se viu neste país (...). "É um perigo para a República (...) Porque este homem nunca provou que tenha conseguido alguma coisa da sua vida". Os 3 pontos em que assenta a contestação: "Ultrapassou as contas da campanha, propaganda abusiva e cumplicidade com a violação da lei sindical", dado o apoio do "secretário-geral da CGT e das suas tropas". Evoca também o "linchamento mediático de Nicolas Sarkozy".

5.07.2012

O idiota

Ontem vi, noite dentro, a vitória de Hollande numa coisa da Europa que se chama Euronews. Os narradores portugueses eram dois. Um limitava-se a narrar as coisas que se estavam a ver - os milhares de manifestantes na Bastilha, Hollande que chega-não chega, o sinal que se perde - e a traduzir sumariamente o que vinha lá escrito em inglês. O outro, o alternador, era um idiota declarado que nem nos piores blogues de direita se encontra (de quem será filho, sobrinho, afilhado o rapazola?) Contrariava o que dizia o outro, sempre no sentido de rebaixar o changement que estava ali a ser festejado. Como os manifestantes eram muitíssimos, o idiotazinho saiu-se com o seu pensamento mais profundo: "São muitos, mas isto já se sabe, o futebol e a política arrastam sempre multidões." Depois insistiu com este seu pensamento (repetiu-o), e o narrador principal deve ter pensado "nem tanto ao mar nem tanto à terra" e mudou de assunto traduzindo rapidamente mais uma legenda que apareceu.
Uma apostinha como este menino idiota ainda há-de ser alguém neste governo português abaixo de merda?

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